Ansiedade de Separação



“Mãe, fica comigo!”


O medo e a ansiedade fazem parte do desenvolvimento e como afirma Bowlby, a Ansiedade de Separação é uma sequência normal do desenvolvimento da criança, uma necessidade vital para o ser humano.


Mas então, o que sentem as crianças com Ansiedade de Separação?


O que separa o normal do patológico?


Que atividades e estratégias poderão ser implementadas?


As crianças que têm Ansiedade de Separação sentem-se sozinhas na ausência das suas figuras de referência. Mas então, o que é que isto significa? Significa que é preciso que a criança tenha a representação mental dos seus pais, que os consiga imaginar, sentir a sua presença, quando eles, por alguma razão, têm de se ausentar fisicamente. Mas, para que a criança adquira esta representação mental, é preciso que os laços afetivos, o apego que vai construindo (a sua vinculação) seja feito de uma forma segura, utilizando as figuras de referência (principalmente a mãe) como base segura a partir da qual exploram o meio.


A simples presença do medo de separar-se da mãe, pai ou qualquer outra figura de forte ligação afetiva não é necessariamente sinal de patologia emocional, pelo contrário, faz parte do desenvolvimento infantil. No entanto, a Ansiedade de Separação só se torna numa perturbação quando as reações de medo e de ansiedade perante a separação de uma das figuras de forte ligação ou perspetiva de separação da mesma, passam a comprometer a adaptação e o desenvolvimento infantil, em função do estádio em que se encontra. Isto significa, que nos devemos preocupar quando a criança tiver medos persistentes e excessivos; quando os sintomas provocam mal-estar considerável à criança/família; quando estas manifestações interferem com a sua capacidade de desempenho ou envolvimento em contextos/tarefas que a criança evita ou enfrenta com muito sofrimento; quando algumas queixas se mantêm, sem a existência de uma causa médica.


O que é então a Perturbação da Ansiedade de Separação?


Esta perturbação caracteriza-se pelo medo e angústia excessiva e intensa perante a separação ou a ideia de separação das figuras de referência, podendo traduzir-se em dificuldades em adormecer (pesadelos), medo de ficar sozinha, dificuldades de interação social e recusa em ir à escola. São crianças que estão constantemente e excessivamente a necessitar de atenção. Porém, para que esta ansiedade seja considerada uma perturbação, ela deve interferir no funcionamento da vida diária da criança, repercutindo negativamente também na rotina e bem-estar dos seus cuidadores.


O DSM-IV estabelece uma série de critérios para o diagnóstico da Perturbação de Ansiedade de Separação. Pelo menos três critérios devem estar presentes em relação ao afastamento de casa ou dos pais. Dentro dos sintomas estão o sofrimento excessivo e recorrente diante da ocorrência ou iminência de afastamento; preocupações persistentes e excessivas acerca de perigos envolvendo os pais ou a si mesmo; recusa ou resistência a ir desacompanhado para a escola ou outros locais; temor em ficar sozinho em casa; preocupação persistente e excessiva acerca de perder ou sobre possíveis perigos envolvendo as figuras de apego; medo excessivo de que um evento indesejado ocasione a separação das pessoas com quem se vincula (como perder-se ou ser sequestrado); repetidas queixas de sintomas somáticos (sintomas sem comprovação médica, como dores de cabeça e abdominais) quando a separação de figuras importantes de vinculação ocorre ou é prevista; pesadelos repetidos envolvendo a possibilidade de separação e relutância ou recusa persistente a ir dormir sem a presença de uma figura de vinculação.


Outros critérios relevantes são o prejuízo funcional e significativo em áreas da vida da criança (como o escolar e o social), a duração dos sintomas de pelo menos quatro semanas e que ele não ocorra durante outras psicopatologias.


Diante da ocorrência ou previsão de afastamento dos pais ou das figuras de vinculação, a criança com esta perturbação tende a apresentar um medo irreal de que algo muito mau aconteça com eles ou com os seus pais que impediria o reencontro com eles. Os medos mais frequentes são ferimentos graves, morte e rapto, que podem suceder até mesmo durante o sono, perturbando-a. Ao mesmo tempo, as crianças tendem a seguir e perseguir os pais dentro de casa, recusam-se a dormir sozinhas ou a saírem de casa desacompanhadas. Muitas vezes, diante da separação dos pais ou na antecipação da mesma, sentem uma saudade sufocante que ocasionam sintomas corporais como dores de cabeça, náuseas e dores de barriga.


Como pai ou mãe o que posso fazer?


Deve:


· Construir um espaço seguro, agradável e acolhedor, que deverá ser o quarto da criança;


· Ter uma disponibilidade afetiva e corporal para a criança;


· Proporcionar à criança objetos, que lhe transmitam segurança;


· Utilizar constantemente o reforço positivo;


· Estimular a sua capacidade de iniciativa e atitude crítica, através de elogios, propostas de atividades e perguntas que promovam o seu diálogo;


· Aumentar o seu sentimento de segurança e autoconfiança, motivando-a nos seus interesses e proporcionando-lhe atividades que lhe dão prazer e onde tem um bom desempenho, intercalando com atividades em que tem mais dificuldades, mostrando-lhe que também é capaz de as realizar;


· Promover a socialização com os pares.



Também pode realizar algumas atividades com a criança que promovam o seu bem-estar. As atividades com as crianças que possuem Ansiedade de Separação devem ser dinâmicas e provocar uma maior autoestima e autoconfiança naquilo que fazem e no que são capazes de alcançar. Nesse sentido de melhorar o desenvolvimento da criança e da relação pais-filho deve utilizar atividades criativas e expressivas com a criança como a dramatização, mímicas, música, dança, jogos de construção, entre outros. Também deve ajudar a criança nas atividades de relaxamento como as técnicas de relaxamento de Jacobson para crianças e o treino da respiração.


Em conclusão, todos nós podemos ter medos, mas a duração, a intensidade e a frequência com que ocorrem é que determinam se é uma perturbação e, se assim for, será necessária a intervenção técnica especializada. Esta intervenção deve implicar a participação da família, de um psicólogo, dos educadores e das pessoas que cuidam diretamente da criança, devendo estar todos envolvidos desde o início do processo.


Neste sentido, a Escola de Afetos fornece consultas de avaliação psicológica e psicoterapia.




Texto escrito por Carolina Violas, Psicóloga Clínica, Pós-Graduada em Psicologia Escolar

 

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